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Relação entre Fé, Sagrada Escritura e Teologia como fundamento para um método teológico veterocatólico

O Método Teológico, também conhecido como Epistemologia da Teologia, já foi considerado como parte da Teologia Fundamental (Bittencourt, 2013b), estando ao lado da Apologética. No entanto, autores como Boff (2015) repetem a ideia de que ela deve ser compreendida como uma matéria totalmente à parte, dado seu estatuto teórico próprio, ainda que mantenha uma relação estreita com outras disciplinas teológicas e da ciência da religião. Neste cenário, temos a teologia como uma “reflexão crítica, sistemática sobre a intelecção da fé” (Wandsher et al., 2021a, p. 45); e, para melhor compreender aquilo que foi aderido pela fé, a teologia se mostra como aquela que dá razão da fé e da esperança, como nos exorta São Pedro (1Pd 3,15).


O Método teológico está associado à prática da razão para chegar à verdadeira teologia. Portanto, a metodologia teológica procura dar razão a elementos constitutivos da teologia; favorece um esquema normativo de operações para o teologizar, por meio de um procedimento que proteja este saber de erros de conteúdo ou de forma (Boff, 2015). O discurso teológico provoca uma pluralidade de saberes com vista à sua sustentação. Por sua parte, a metodologia teológica tem como objetivo articular todos estes discursos para uma prática teológica com a produção de um resultado sólido, confiável e competente.


Dentre doze elementos que Boff (2015) enumera e que se articulam em torno da Teologia, citamos dois: a fé e a Sagrada Escritura, sendo a primeira aquela que deve possuir a primazia absoluta na teologia e, a segunda, o primeiro testemunho a ser ouvido. Nesta importância da fé, Boff (1999) a constitui como o fundamento indispensável para todas as reflexões teológicas, na medida em que, em sua dinâmica interna, é ela que impele aquele que crê na busca da compreensão daquilo em que acredita.


A teologia é a fé que deseja entender um Deus que se manifestou a um povo e na experiência pessoal do novo teólogo. Assim, a Teologia não é um estudo reduzido a um exercício puramente intelectual e desvinculado da espiritualidade, mas, ao contrário, deve estar com profundas raízes na relação pessoal com Deus. O estudo intelectual da Teologia perpassa pela “teologia devota”, que se sustenta pela oração, pela humildade e pela imposição do mistério que ultrapassa a ciência, mas, ao mesmo tempo, garante a sabedoria suficiente para fortalecer a Igreja e servir ao Povo de Deus.


Wandsher et al. (2021) apontam a fé como princípio interno do conhecimento teológico, sendo, ao mesmo tempo, pressuposto e instrumento do pensar. Desta maneira, o teólogo não pensa apesar da fé, mas da fé e a partir dela, provocando um diálogo entre a razão e o dom da fé, sob a luz do Espírito Santo. Insiste Boff (2015) ao lembrar a definição clássica da teologia, expressa por Santo Anselmo: “a teologia é a fé buscando entender”. Nas palavras de Boff (2015, p. 25), “a fé é desejosa de saber. Ela busca luz”. Por fim, “o teólogo é, antes de mais nada, um homem de fé, que procura soletrar as verdades da fé” (Bittencourt, 2013a, p. 17).


O segundo fundamento da teologia é a Sagrada Escritura por ser um testemunho privilegiado da Revelação divina. É um memorial que ilumina a fé e a reflexão teológica. O discurso teológico implica tratar de “Alguém” e não de um objeto neutro, de “Alguém” que se revela e deixa um testamento (Wandsher et al., 2021b). O desejo de Santo Agostinho em ver com a inteligência aquilo que ele acredita indica que na fé existe uma vontade de verdade, que está revelada na Sagrada Escritura.


A Teologia que reconhece a soberania de um Ser Supremo manifesto ao seu povo, conforme a Sagrada Escritura, se distingue do conceito de Religião Natural, na medida em que se trata de um Deus que se dá a conhecer a todo homem, convidando-o à filiação divina, à graça santificante (Bittencourt, 2013a).


Os fundamentos da Fé, da Sagrada Escritura e da Teologia só encontram sentido quando produzem uma reflexão e, para tal, necessitam acontecer em algum lugar. Esta relação surge da experiência pessoal da fé, que produz um encontro concreto com Deus, fazendo surgir o desejo que sustenta o teólogo em sua inspiração para suas reflexões.


A teologia autêntica nasce da oração, como fruto da fé, e do estudo, como fruto da investigação das Sagradas Escrituras (Boff, 1999). Particularmente, minha experiência no estudo da teologia tem contribuído para o desenvolvimento de uma maturidade espiritual, na medida em que a intuição não precisa mais ser o norteador principal da minha relação pessoal com Deus e nem da minha prática pastoral. Este desenvolvimento também se estende ao favorecimento de estreitar mais laços nos encontros ecumênicos e inter-religiosos, nos quais a relação com o próximo tem, pioneiramente, a razão como conduto da compreensão do que se fala.


Deste modo, ainda que a fé seja expressa de modo diferente e as práticas piedosas sejam divergentes, a fé iluminada pela inteligência se torna mais corajosa e empática por não ter medo de ser destruída ou diminuída. Ao contrário, sustentado pelo fundamento da fé e das reflexões da Sagrada Escritura de tantos outros teólogos que me precederam, sinto-me confortável para compreender que não estou só e posso subir em ombros de gigantes para prosseguir com firmeza, colhendo os frutos dos bens intelectuais, morais e espirituais e exponenciando a capacidade de anunciar o Mistério Divino.


A relação entre fé, Escritura e teologia é inseparável. Enquanto a fé abre o coração ao mistério, as Sagradas Escrituras testemunham e a Teologia o interpreta criticamente. Portanto, cabe ao teólogo viver este tríplice vínculo com santa humildade, a fim de reconhecer que todo discurso sobre Deus será limitado, que a fé não conseguirá ver tudo e que a experiência não poderá abraçar todas as coisas. Mas, sendo a relação maior do que cada uma delas, possibilita sustentar o desejo de compreender a Deus e dar testemunho do seu Evangelho, em Jesus Cristo, no mundo de hoje.


Referências

Bittencourt, E. (2013a). Iniciação Teológica: Matter Ecclesiae (1o ed.). Letra Capital.


Bittencourt, E. (2013b). Teologia Fundamental: Matter Ecclesiae (1o ed.). Letra Capital.


Boff, C. (1999). Conselhos a um jovem teólogo. Perspectiva Teológica, 31(83), 77–77.


Boff, C. (2015). Teoria do Método Teológico (6o ed.). Editora Vozes.

Wandsher, A., Cauduro, M. J., & Barbosa, S. (Org.). (2021a). Teologia fundamental: Natureza e método (V. 2). Educação e Cultura.


Wandsher, A., Cauduro, M. J., & Barbosa, S. (Org.). (2021b). Teologia fundamental: Natureza e método (V. 1). Educação e Cultura.


+Diogo Arcebispo Veterocatólico do Rio de Janeiro e Primaz da igreja

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