A Trindade nas Sagradas Escrituras: uma Perspectiva Bíblico-Teológica
- Arquidiocese Rio de Janeiro

- 6 de out.
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A doutrina da Santíssima Trindade constitui o núcleo da fé cristã, sendo o mistério central da revelação de Deus em Jesus Cristo. Afirmamos com toda a tradição oriunda do catolicismo e das igrejas orientais que o mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã.
Embora a palavra “Trindade” não apareça literalmente nos textos bíblicos, a revelação do Pai, do Filho e do Espírito Santo em íntima comunhão é apresentada em diversas passagens. Ladaria (2015) observa que “não há unidade divina sem Trindade, e vice-versa”, destacando a originalidade do monoteísmo cristão. Dessa forma, a Escritura manifesta o Deus Uno e Trino em sua autocomunicação histórica e salvífica.
A seguir, apresentam-se cinco passagens bíblicas que fundamentam a fé trinitária, acompanhadas de seu contexto e significado teológico.
1. Mateus 28,19 – O Mandato Missionário
“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
A fórmula batismal evidencia a unidade de Deus e a distinção das três Pessoas divinas. O uso do singular “em nome” revela a unicidade da essência divina, enquanto a menção explícita ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo demonstra a comunhão trinitária. Assim, o batismo cristão introduz o fiel na vida da Trindade, revelando a dimensão relacional do mistério divino (LADARIA, 2015).
2. João 14,9-11 – A Unidade entre o Pai e o Filho
“Quem me viu, viu o Pai. Como podes dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? Não crês que estou no Pai e que o Pai está em mim?”
Neste discurso de despedida, Jesus revela sua profunda comunhão com o Pai. O texto mostra que a encarnação manifesta não apenas o Filho, mas também o Pai, em íntima relação. O Espírito Santo, como comunhão de amor, torna esta experiência acessível à humanidade. Para Catão (2000), a teologia trinitária nasce justamente da experiência religiosa de Jesus que, ao chamar Deus de Pai, revela o caráter filial de sua relação.
3. João 14,16-17 – A Promessa do Espírito Santo
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que esteja sempre convosco: o Espírito da Verdade.”
Aqui se evidencia o dinamismo trinitário: o Filho roga, o Pai envia e o Espírito Santo permanece. Reinert (2021) ressalta que “em Jesus Cristo a Trindade se manifesta naquilo que há de mais autêntico e original”, revelando-se como comunhão e alteridade. Essa passagem demonstra a continuidade da presença divina na história por meio do Espírito, que atualiza a obra do Filho.
4. 2 Coríntios 13,13 – A Bênção Apostólica
“A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós.”
Na bênção final, Paulo apresenta uma fórmula trinitária que reflete a experiência litúrgica e comunitária da Igreja primitiva. A graça do Filho, o amor do Pai e a comunhão do Espírito não são dons separados, mas manifestações distintas de uma única realidade divina. Boff (1999) observa que toda a teologia trinitária pode ser entendida como desdobramento da afirmação “Deus é amor” (1Jo 4,8), que fundamenta a comunhão trinitária.
5. João 1,1-3.14 – O Verbo Eterno Encarnado
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus. (…) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.”
O prólogo joanino situa o Verbo no princípio da criação, em comunhão eterna com Deus, e, ao mesmo tempo, encarnado pela ação do Espírito em Maria. A encarnação é, portanto, um evento trinitário: o Pai envia, o Filho assume a condição humana e o Espírito realiza a concepção (REINERT, 2021; LADARIA, 2005). Essa passagem mostra que a economia da salvação é obra conjunta das três Pessoas divinas.
Considerações Finais
As passagens apresentadas demonstram que a doutrina da Trindade não é construção tardia ou extrabíblica, mas fruto da revelação de Deus na história da salvação. Toda a vida de Jesus manifesta a presença trinitária, sendo o mistério pascal o ápice dessa revelação. Reinert (2021) destaca que a cruz e a ressurreição constituem eventos trinitários, nos quais o Pai, o Filho e o Espírito Santo manifestam plenamente o amor divino à humanidade.
Assim, a fé cristã reconhece que a revelação trinitária não é apenas uma questão conceitual, mas um mistério salvífico que insere os crentes na comunhão do Deus Uno e Trino.
Referências
BOFF, Leonardo. Trindade e sociedade. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
CATÃO, Francisco. A Trindade: mistério da comunhão. São Paulo: Paulinas, 2000.
LADARIA, Luis F. O Deus vivo e verdadeiro: o mistério da Trindade. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2005.
LADARIA, Luis F. Introdução à teologia. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2015.
REINERT, João. A Trindade na história da salvação. Petrópolis: Vozes, 2021.
+Diogo
Arcebispo Veterocatólico e Bispo do Rio de Janeiro


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