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Reflexão espiritual para um Vétero Católico: A Virtude da Fidelidade Criativa na Tradição Viva

“Não se põe vinho novo em odres velhos” (Mt 9,17). Esta advertência de Cristo não é um convite ao abandono do antigo, mas uma chave para compreendê-lo de modo novo, a fim de que a Palavra eterna possa fermentar novamente o mundo. É com esse espírito que o Vétero Católico é chamado a viver a sua fé: enraizado na tradição, mas atento aos clamores do tempo presente.


Ao olharmos para a história da fé no Brasil, vemos que nossa identidade católica sempre caminhou entre tensões e superações. Desde a Constituição de 1824, quando se definia o catolicismo como religião do Império e se restringia a visibilidade de outras expressões de fé, até os movimentos de resistência como Canudos e a fundação da ICAB, Deus sempre suscitou homens e mulheres que não temeram ser voz profética, mesmo que isso os colocasse à margem das estruturas do poder eclesial dominante.


Antônio Conselheiro, com sua fé popular, suas preces em latim e seu amor radical pelos pobres, representa um testemunho de uma espiritualidade que nasce do chão, encarnada nos sofrimentos do povo. Sua “nova religião” nada mais era do que o Evangelho vivido com radicalidade. Não era heresia, era profecia. Canudos não caiu por sua doutrina, mas por sua prática evangélica, que incomodava os interesses do mundo.


Dom Carlos Duarte, por sua vez, ensina-nos a virtude da parresia — a coragem de dizer a verdade em amor. Sem romper com a fé dos apóstolos, buscou purificá-la das amarras políticas e clericalistas que a deformavam. Ao fundar a ICAB, ele recuperou o espírito católico mais autêntico: apostólico, comunitário e comprometido com a justiça.


Para nós, Vétero Católicos, que recebemos esta herança espiritual viva, a virtude necessária é a fidelidade criativa. Somos chamados a manter o depósito da fé com reverência, mas a aplicá-lo com discernimento, tal como os antigos Padres da Igreja, que, com linguagem de seu tempo, iluminaram os desafios de suas sociedades. Como escreveu São Vicente de Lérins, “deve-se conservar o que foi crido em toda parte, sempre e por todos — mas com crescimento e desenvolvimento, segundo a inteligência e sabedoria de cada tempo” (Commonitorium, c. 434).


Vivemos hoje um tempo em que o mundo busca sentido, comunidade e espiritualidade autêntica. Nossa resposta não pode ser o saudosismo vazio, nem o abandono da tradição. Somos chamados a ser o elo entre a Tradição e a Profecia, unindo os símbolos e ritos antigos com as dores e esperanças de um povo que ainda clama por Canudos — por terra, dignidade e fé.


Sejamos, pois, Vétero Católicos com o coração dos antigos e os olhos dos profetas. Nossa liturgia seja bela, nossa doutrina seja sólida, mas que tudo isso se una a uma prática pastoral encarnada, libertadora e viva. Que a virtude da fidelidade criativa nos faça instrumentos do Reino de Deus — ontem, hoje e sempre. Amém.


Dom Diogo,

Reflexão do I Sínodo Internacional 2025


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No Brasil desde 1932, através da missão polonesa da Igreja Antigo Católica da Polônia, em Ponta Grossa /PR, pelas mãos do Padre Bartnicki. Após o incêndio criminoso de 1934, só em 2019, esta Igreja retornou a Utrecht para solicitar seu reconhecimento.

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